sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

Promessas de Ano Novo

Da sacada de seu apartamento Humberto tragava uma de suas promessas da ultima virada de ano. Assim como jogos de azar, prostitutas e whisky, o cigarro também era um dos itens não cumpridos de um extenso pacote de medidas para um ano melhor. Que obviamente não vieram a acontecer. Mas de todas as promessas não cumpridas a que de fato lhe amargurava era não ter alguém para dividir a passagem de ano mais uma vez.

Foi então quando os fogos romperam no céu anunciando o primeiro segundo de um novo ano, sua campainha tocou. Espantando ele foi vagarosamente equilibrando um cigarro na mão e um copo de whisky na outra. Abriu a porta desajeitado e deparou com um verdadeiro presente de ano novo.


Com um leve sorriso parado em sua porta estava sua vizinha do andar de baixo. Seu susto foi enorme, no lugar do habitual cabelo emaranhado preso com caneta, havia um lindo cabelo loiro cacheada. Sem os seus óculos que usavam diariamente os olhos brilhavam como os de uma criança esperando o natal. E o vestido branco, era o toque final para se fazer de uma simples mulher uma obra de arte.

Sem acreditar muito no que estava vendo Humberto perguntou:

— Boa noite! Você precisa de alguma coisa?

Não! Eu não preciso de nada, sou apenas a vizinha do andar de baixo e queria lhe desejar um  feliz ano novo.

Humberto então sem hesitar abraçou a garota desejando um feliz ano novo. E ao tocar seu corpo sentiu um perfume divino e convidativo. Somente a soltou porque seria estranho ficar agarrado a ela, mas era a sua verdadeira vontade naquele momento. Ela abriu um sorriso dizendo.

— Olha, eu esperava um amigo para jantar e ele não apareceu! Você não quer ir ao meu apartamento só para jantarmos.

Humberto não pensou apenas disse:

— Claro, me deixa só vestir uma camisa.

Minutos depois estavam os dois no apartamento de baixo dividindo uma garrafa de Cabernet Sauvignon aos risos. Humberto então tomou a liberdade de perguntar sobre a companhia que não viera.

— Desculpe ser intrometido Silvia. Mas o amigo que devia estar aqui tomando este saboroso vinho em sua companhia é um namorado?

Timidamente olhando para a taça de vinho ela confessou.

— Não tenho amigo nenhum! Eu fiz este jantar para nós dois.

Surpreso Humberto continuou a conversa.

— Para nós? Como assim?

— Ano passado eu marquei um jantar com um rapaz que estávamos quase namorando, mas ele me ligou encima da hora dizendo que não vinha. Eu fiquei chateada e estava na sacada bebendo vinho, quando uma amiga me mandou uma foto dele pelo celular em uma festa beijando outra mulher.

Humberto ficou surpreso quanto a confissão e suava sem saber se de calor ou por nervoso. Mas segurou a mão de Silvia que estava tremula e disse continue. Com as bochechas rosadas Silvia continuou a historia.

— Então eu subi no parapeito e decidi pular, mas a sua voz veio como um anjo para me salvar. Foi quando ouvi você dizer do andar de cima que queria alguém para passar a eternidade e que estava cansado de ficar sozinho.

Humberto realmente havia dito isso durante sua ultima promessa de ano novo. E estarrecido com a beleza e a historia da moça. Resolveu que era hora de beija-la. Ao aproximar seu corpo mais próximo do de Silvia, ele não obteve resposta alguma dos seus músculos. Foi então que notou o lindo rosto da garota um pouco borrado. E repentinamente sem alguma explicação, seus olhos embarcaram em uma escuridão absoluta. Ouvindo uma voz vacilante ao fundo.

— Não se preocupe amor agora somos só eu e você. Como Romeu e Julieta.


E finalmente Humberto e Silvia cumpriram sua promessa de Ano Novo.

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