quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

Carnavalha

Cambaleando em meio à multidão eu percebi seu rosto desfocado devido a minha embriaguez. Era de uma beleza nunca vista, mas precisei firmar os olhos para ter certeza do que estava vendo. Uma ninfa, sem dúvida alguma. Uma deusa vinda diretamente de um poema grego. Estava ali parada naquele beco, dançando como uma serpente subindo em uma macieira.

Seus lábios vermelhos eram a deliciosa maçã do pecado original. E eu como um bom Adão quis prová-la assim que a avistei. Confesso que não foi difícil: assim que nossos olhares se cruzaram, eu sabia como terminaríamos a noite. Pelo menos era o que pensava.

Em meio a confetes, serpentinas e foliões desavisados eu caminhei até ela, retirei meu isqueiro do bolso a acendi seu cigarro. Delicadamente ela se inclinou em frente à chama, deixando a luz amarelada revelar mais do que devia em seu decote. Neste momento, assim como uma medusa ela me paralisou com sua beleza. Eu faria qualquer coisa que ela quisesse, e assim aconteceu.


Guiado pelas suas mãos macias eu a segui até o fundo daquele beco, onde nossos suspiros só poderiam ser ouvidos pela lua. Segurei lentamente em sua cintura e mergulhei em sua boca. Foi à sensação mais prazerosa que havia sentido em toda a minha vida, e enquanto lentamente eu retirava seu vestido, eu senti uma leve pontada no abdômen. Olhei assustado para baixo e constatei a lâmina rubra e esguia se retirar do meu corpo.

O sangue encharcou rapidamente a seda da minha blusa. Eu tentei empurrá-la para frente, entretanto meus braços ficaram fracos como o de uma criança. Ela me estocou com a lâmina mais uma vez e ao pé do meu ouvido disse:

Carnis Levale! Neste altar eu ofereço seu corpo.

Meu corpo, pesado, escorregou pela parede e retesou no chão. Uma leve chuva começou a cair e espalhou meu sangue. Minha visão ficou turva e a última coisa que me lembro foi o barulho dos seus pés se afastando. Curiosamente eu não morri aquele dia, muito pelo contrário, aquele foi o meu renascimento.


Desde então todas as noites de carnaval eu saio em busca daquela mulher, para lhe agradecer por abrir meus olhos para um mundo novo. Enquanto não a acho eu vou me divertindo com outras garotas. Eu e minha Navalha!

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