Cambaleando em meio à multidão eu
percebi seu rosto desfocado devido a minha embriaguez. Era de uma beleza nunca
vista, mas precisei firmar os olhos para ter certeza do que estava vendo. Uma
ninfa, sem dúvida alguma. Uma deusa vinda diretamente de um poema grego. Estava
ali parada naquele beco, dançando como uma serpente subindo em uma macieira.
Seus lábios vermelhos eram a
deliciosa maçã do pecado original. E eu como um bom Adão quis prová-la assim
que a avistei. Confesso que não foi difícil: assim que nossos olhares se
cruzaram, eu sabia como terminaríamos a noite. Pelo menos era o que pensava.
Em meio a confetes, serpentinas e
foliões desavisados eu caminhei até ela, retirei meu isqueiro do bolso a acendi
seu cigarro. Delicadamente ela se inclinou em frente à chama, deixando a luz
amarelada revelar mais do que devia em seu decote. Neste momento, assim como
uma medusa ela me paralisou com sua beleza. Eu faria qualquer coisa que ela
quisesse, e assim aconteceu.
Guiado pelas suas mãos macias eu
a segui até o fundo daquele beco, onde nossos suspiros só poderiam ser ouvidos
pela lua. Segurei lentamente em sua cintura e mergulhei em sua boca. Foi à
sensação mais prazerosa que havia sentido em toda a minha vida, e enquanto
lentamente eu retirava seu vestido, eu senti uma leve pontada no abdômen. Olhei
assustado para baixo e constatei a lâmina rubra e esguia se retirar do meu
corpo.
O sangue encharcou rapidamente a
seda da minha blusa. Eu tentei empurrá-la para frente, entretanto meus braços
ficaram fracos como o de uma criança. Ela me estocou com a lâmina mais uma vez
e ao pé do meu ouvido disse:
— Carnis Levale! Neste
altar eu ofereço seu corpo.
Meu corpo, pesado, escorregou pela parede e retesou no
chão. Uma leve chuva começou a cair e espalhou meu sangue. Minha visão ficou
turva e a última coisa que me lembro foi o barulho dos seus pés se afastando.
Curiosamente eu não morri aquele dia, muito pelo contrário,
aquele foi o meu renascimento.
Desde então todas as noites de carnaval eu saio em
busca daquela mulher, para lhe agradecer por abrir meus olhos para um mundo
novo. Enquanto não a acho eu vou me divertindo com outras garotas. Eu e minha
Navalha!
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