sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

A Montanha

Desde os primórdios de minha família nesta montanha, nós vivemos da terra. Meu primeiro ancestral a chegar aqui caminhou dia e noite com sua mulher e filhos fugindo da grande guerra que assolava o mundo. A guerra era implacável, devorava almas como um animal faminto.

E foi nesta pequena mata fechada, longe dos lampiões que iluminavam as velhas ruas, que nós encontramos esta pequena montanha. Ela não chamou muita atenção de início, pois o que realmente era convidativo era o rio e caça abundante no local. Entretanto uma brisa quente escapava das frestas da montanha e convidava meus ancestrais a conhecer seu interior.


Mas a montanha permaneceu intocável até que um dia, o rio de caudaloso passou a ser apenas um filete de água, as árvores de frondosas se tornaram gravetos retorcidos na paisagem, a caça de interminável se tornou escassa e meu primeiro ancestral a pisar aqui resolveu sentar em meio a sua plantação arruinada, com uma espingarda apontada para a sua própria boca.

Foi neste dia em que ele olhou para a montanha e sentiu que ela o olhava de volta. Uma voz viscosa e quente o chamou novamente para entrar montanha adentro. Sem nenhum fio de esperança ele cedeu a tentação da montanha. Achou uma pequena entrada aonde pôde se esgueirar e caminhar no sentido do coração da besta de pedra.

Não demorou para o ar ficar sufocante e quente, e um cheiro forte de enxofre tomar todo o local como seu. Mas isso não o fez recuar, ele adentrou a montanha às cegas seguindo somente pelo instinto que lhe dizia aonde ir. Foi então que um filete de luz vermelha apontou ao longe e isso o fez ter ânimo para correr de encontro com a luz.

Lá dentro no coração da montanha havia uma pequena cascata que derramava fogo, e ao seu redor estava coberto de pedras de ouro. Sem saber o que dizer ele pegou uma pedra e colocou no bolso. Uma voz forte, porém serena, o advertiu:

— Esta pedra que estás a me usurpar pouco me vale humano, mas para você sei que possui um valor enorme.

Meu ancestral olhou dentro da cascata de fogo e viu uma silhueta que não parecia em nada com a de uma pessoa. Ele o chamou a partir daquele dia de ”O senhor da montanha”. E continuou a conversa.

— Me desculpe! Não sabia que este ouro tinha dono. Vou colocar de volta no local, não quero confusão.

A voz por detrás do véu de fogo retumbou.

— Não precisas pedir desculpas! Sei que a pedra salvará sua família da fome, apenas sacie a minha fome e estamos quites.

Desconfiado meu ancestral perguntou:

— Mas sua fome é de que meu senhor?

— Almas! Almas puras! Traga-me uma por ano e pode levar quantas pedras quiseres.

Mesmo achando estranho, meu ancestral acenou com a cabeça concordando e saiu da montanha com o bolso cheio de ouro. Isto não somente salvou a sua família por um ano como lhe deu um certo conforto. Mas minha família é de linhagem pura e nobre de coração, meus ancestrais jamais entregariam uma pessoa para que um monstro a devorasse.

Foi então que passados exatos um ano, o filho mais novo sumiu e ele começou a procurar por toda floresta. Até que a montanha o chamou em seus sonhos. Chorando, ele entrou pela pequena caverna e caminhou até o coração da montanha. Fazia exatamente um ano que havia estado ali e havia prometido para o senhor da montanha uma alma pura para que ele pudesse se alimentar. Chegando ao coração da montanha ali estava a silhueta atrás da cascata de fogo.

— Seja bem vindo novamente! Como não honrou com seu trato, humano, tive que eu mesmo sair para me alimentar de uma alma pura!

Ele chorou como uma criança por horas olhando para o corpo do filho inerte sobre uma pedra no meio do rio de lava. Sem poder retirar o filho e lhe dar um enterro decente, ele exclamou ao senhor da montanha:

— Por que fez isso! O que preciso fazer para que não faça mal a minha família.

O tom da voz mudou, agora era mais sarcástica e imperativa do que da primeira vez:

— É simples meu servo, pode levar quantas pedras quiser como o de costume, mas nunca se esqueça de que uma vez por ano preciso me alimentar.

Minha família nunca passou dificuldade e o ouro retirado da montanha criou o império que somos hoje. Agora toda a mata, rio e bosque ao redor da montanha fica em nossa propriedade, comprado com o ouro extraído da própria montanha. Com este patrimônio, colaboramos fortemente para o bem-estar de toda a região, pois como disse, somos de uma linhagem nobre e pura, e não acumularíamos essa riqueza sem dividir com aqueles que necessitam.


Agora entendes garota que mesmo me suplicando não a deixarei ir embora?

Um comentário:

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