Aqui é sempre inverno, estamos
com a neve sempre pelo joelho e na maior parte das vezes é escuro. Com uma
pequena exceção, existe um curto período em que a luz nos ilumina, mas
rapidamente a escuridão toma seu lugar. Não sei precisar há quanto tempo
estamos aqui e o pai também não. Sempre que pergunto como viemos parar aqui e
como eram as coisas antes, ele responde com sua voz rouca:
— Você faz muitas perguntas filho!
Então assim passamos os nossos dias, minha irmã
e eu brincamos no balanço - eu sempre estou empurrando porque sou o mais velho.
A mãe está sempre na cozinha de casa mexendo um bolo e o pai está cortando
lenha. Afinal aqui é muito frio e precisamos nos aquecer, principalmente nas
épocas de escuridão. O chão aqui treme sempre quando está claro e em seguida
vem uma nevasca. No início nós tínhamos muito medo, principalmente minha irmã
que é pequena, mas já estamos acostumados com isso.
Quando está escuro nós ficamos em casa, mas
meu pai sempre diz:
— Assim que a luz voltar todos com seus
afazeres: mãe fazendo bolo, eu vou cortar lenha e filho irá brincar com sua
irmã no balanço.
Uma única vez eu resolvi
retrucar.
— Mas pai, sempre fazemos isso! Eu tive uma
ideia... E se eu e minha irmã brincarmos de fazer bonecos com a neve?
— Você só pode estar lelé da cuca filho,
esse é nosso dever e temos que cumprir com ele sempre que a luz vier.
— Por quê?
— Você faz muitas perguntas filho!
Foi então que hoje eu decidi fazer algo
diferente e quando a luz chegou nós corremos para os afazeres. Entretanto,
pouco tempo depois eu parei de balançar minha Irmã e comecei a empilhar a neve.
Meu pai nervoso enquanto cortava a lenha virou para mim e disse com o canto da
boca.
— O que é filho! Volte para seus afazeres
você não pode fazer isso quando a luz está no céu.
— Pai, veja! Qual o problema? Estou fazendo
algo diferente e divertido!
Minha irmãzinha saltou do balanço e correu
para junto de mim, seu sorriso de felicidade era lindo. E juntos montamos um
lindo boneco de neve, mas quando já estávamos terminando, algo aconteceu. Um
evento sem explicação.
Simplesmente um olho gigante cobriu todo o
céu nos observando. E de lá surgiu a voz mais alta e grave que eu já ouvi.
Preencheu meu coração e me fez tremer os ossos. Eu fiquei estático, sem saber o
que fazer enquanto a voz dizia:
— Olha, eles estão mexendo!
Meu pai desesperado correu para minha irmã,
a pegou em seus braços e gritou para corrermos até nossa casa. Mas uma mão
enorme tomou conta do céu e o maior tremor que já tivemos aconteceu, a neve
tomou conta de tudo e eu não conseguia enxergar. Corri sem rumo e bati com o
nariz em uma parede invisível. Eu nunca havia andado além do balanço e quando
olhei esse pequeno pedaço de terra que chamávamos de lar, estava longe do chão,
nas mãos de um gigante.
A neve abaixou um pouco e eu corri para
dentro da casa. Nós tentamos fechar a porta mas ela não fechava. Então, corremos
todos para a sala e pedimos para que aquilo tudo parasse.
Foi quando uma voz ainda mais alta e mais grave disse:
— Claro que não filho! Eles descolaram de
tanto que você sacode este globo de neve.
Nossa casa voltou ao chão, a neve após
alguns segundos parou de cair, os gigantes se foram. Mas agora não sabemos mais
o que fazer. O que nos resta e ficarmos aqui dentro da casa até que tenhamos
certeza do que aconteceu.
Nenhum comentário:
Postar um comentário