segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

Flocos de Neve

Aqui é sempre inverno, estamos com a neve sempre pelo joelho e na maior parte das vezes é escuro. Com uma pequena exceção, existe um curto período em que a luz nos ilumina, mas rapidamente a escuridão toma seu lugar. Não sei precisar há quanto tempo estamos aqui e o pai também não. Sempre que pergunto como viemos parar aqui e como eram as coisas antes, ele responde com sua voz rouca:

— Você faz muitas perguntas filho!

Então assim passamos os nossos dias, minha irmã e eu brincamos no balanço - eu sempre estou empurrando porque sou o mais velho. A mãe está sempre na cozinha de casa mexendo um bolo e o pai está cortando lenha. Afinal aqui é muito frio e precisamos nos aquecer, principalmente nas épocas de escuridão. O chão aqui treme sempre quando está claro e em seguida vem uma nevasca. No início nós tínhamos muito medo, principalmente minha irmã que é pequena, mas já estamos acostumados com isso.


Quando está escuro nós ficamos em casa, mas meu pai sempre diz:

— Assim que a luz voltar todos com seus afazeres: mãe fazendo bolo, eu vou cortar lenha e filho irá brincar com sua irmã no balanço.

Uma única vez eu resolvi retrucar.

— Mas pai, sempre fazemos isso! Eu tive uma ideia... E se eu e minha irmã brincarmos de fazer bonecos com a neve?

— Você só pode estar lelé da cuca filho, esse é nosso dever e temos que cumprir com ele sempre que a luz vier.

— Por quê?

— Você faz muitas perguntas filho!

Foi então que hoje eu decidi fazer algo diferente e quando a luz chegou nós corremos para os afazeres. Entretanto, pouco tempo depois eu parei de balançar minha Irmã e comecei a empilhar a neve. Meu pai nervoso enquanto cortava a lenha virou para mim e disse com o canto da boca.

— O que é filho! Volte para seus afazeres você não pode fazer isso quando a luz está no céu.

— Pai, veja! Qual o problema? Estou fazendo algo diferente e divertido!

Minha irmãzinha saltou do balanço e correu para junto de mim, seu sorriso de felicidade era lindo. E juntos montamos um lindo boneco de neve, mas quando já estávamos terminando, algo aconteceu. Um evento sem explicação.

Simplesmente um olho gigante cobriu todo o céu nos observando. E de lá surgiu a voz mais alta e grave que eu já ouvi. Preencheu meu coração e me fez tremer os ossos. Eu fiquei estático, sem saber o que fazer enquanto a voz dizia:

— Olha, eles estão mexendo!

Meu pai desesperado correu para minha irmã, a pegou em seus braços e gritou para corrermos até nossa casa. Mas uma mão enorme tomou conta do céu e o maior tremor que já tivemos aconteceu, a neve tomou conta de tudo e eu não conseguia enxergar. Corri sem rumo e bati com o nariz em uma parede invisível. Eu nunca havia andado além do balanço e quando olhei esse pequeno pedaço de terra que chamávamos de lar, estava longe do chão, nas mãos de um gigante.

A neve abaixou um pouco e eu corri para dentro da casa. Nós tentamos fechar a porta mas ela não fechava. Então, corremos todos para a sala e pedimos para que aquilo tudo parasse. Foi quando uma voz ainda mais alta e mais grave disse:

— Claro que não filho! Eles descolaram de tanto que você sacode este globo de neve.


Nossa casa voltou ao chão, a neve após alguns segundos parou de cair, os gigantes se foram. Mas agora não sabemos mais o que fazer. O que nos resta e ficarmos aqui dentro da casa até que tenhamos certeza do que aconteceu.

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