domingo, 29 de dezembro de 2013

A Senhora

Como já relatei em outras páginas, sempre há algo de estranho a minha espera. Não só vivencio situações inusitadas, como também as escuto de outras pessoas. Há um bom tempo em uma tarde de verão, eu estava sentado em uma praça tomando sorvete. Observava despretensiosamente as crianças brincando, quando uma voz rouca clamou ao meu lado.

Era uma senhora, com os seus sessenta beirando setenta anos. Andava apoiada sobre uma bengala de madeira negra, com uma coruja de prata na empunhadura. Olhou-me de cima a baixo, por fim pediu para se sentar no banco ao meu lado. Obviamente que não neguei o pedido da senhora.


domingo, 15 de dezembro de 2013

A Sexta Feira

Há de chegar um dia, em que tudo o que disse, todas as experiências que passei serão apenas contos. Muito se perderá e não se terá certeza de quase nada. Esses contos serão passados entre as pessoas até que virem a velha historia do “ O Amigo do Amigo do meu Amigo”. E ninguém mais acreditará. É uma pena, pois se as pessoas dessem ouvidos as antigas lendas urbanas, estariam protegidas e preparadas para o absurdo.

Sei disso porque nunca dei ideia para sexta feira treze. Para mim era uma data como outra qualquer, contudo um dia eu estava no ponto esperando o ônibus. Já havia escurecido quando uma senhora bem velhinha e curvada, veio até a mim dizendo:

domingo, 1 de dezembro de 2013

A Origem

Há alguns dias um dos meus netos me fez uma pergunta intrigante. Estávamos sentados sobre a mesa da cozinha, e eu contava uma de minhas histórias. Já era bem tarde, e eles prestavam atenção em minhas palavras, com uma expressão de surpresa. Quando um deles fez a grande pergunta:

- Vô! O senhor já passou por tanta coisa. Nunca se perguntou o porquê de tanto azar na vida?

domingo, 24 de novembro de 2013

A Cabana

Sabe quando as coisas estão tensas? Gosto de dirigir, para por a cabeça no lugar. Pego o carro e dirijo sem me preocupar aonde vou. Há algum tempo atrás após brigar com a minha esposa, peguei o carro e tomei uma velha estrada de chão. Já era fim de tarde e o sol se punha atrás das árvores.

Estava distraído com a paisagem e quase já estava me sentindo bem, resolvi então parar o carro e dar uma olhada. Fiquei ali parado por algum tempo, admirando as árvores. Quando começou a chover, voltei para o carro. Fui dar a partida e nada, somente um som esganiçado. Tentei por vezes seguidas fazer com que o carro funcionasse. Mas não deu em nada.

domingo, 17 de novembro de 2013

O Banquete

Sempre que leio algum panfleto sobre pessoas desaparecidas, minha mente volta àquela estranha cidade. Desta vez não direi o estado em que fica, somente que está na região norte do país. O motivo da descrição é simples, foi algo tão surreal que presenciei em minha estadia naquela cidade, que poderia causar a repudia de quem ler estas linhas.

O grande estranho daquela cidade aconteceu assim que saltei do meu velho carro. Como o de costume, eu procurava um local para descansar e me alimentar. Um velho poste de madeira abrigava uma dezena de cartazes, resolvi dar uma olhada em busca de uma pousada ou coisa parecida. Porém todos os cartazes indicavam o desaparecimento de pessoas. Devia ter pelo menos uns vinte cartazes.

domingo, 10 de novembro de 2013

O Elevador

Todo bairro possui uma casa abandonada, onde todos afirmam que os últimos moradores saíram por causa do mau agouro, ou que alguém morreu dentro da casa, por isso ninguém a compra. E por ai vai, há sempre um motivo para desconfiarmos destes velhos lugares abandonados. Neste caso, foi um elevador desativado dentro de uma fábrica. Na qual trabalhei durante muito tempo.

 Havia um senhor bem velhinho que tomava conta da manutenção dos prédios, senhor Antônio. Era muito simpático, porém sempre que chegava o mês de agosto ele ficava recluso, quase não falava. Foi durante este mês que há alguns anos atrás, o elevador desativado, simplesmente despencou no posso e bateu lá no ultimo andar. Depois disso pegou fogo, com seis pessoas dentro. Antônio foi o primeiro a chegar ao local, e ouviu as pessoas agonizando de dor dentro do elevador. Ninguém sobreviveu ao acidente.

domingo, 3 de novembro de 2013

A Estrada

Durante a juventude parece que nada de ruim pode acontecer conosco. Então casamos e temos filhos, e um pouco da nossa ousadia acaba indo embora. Um exemplo é dirigir, hoje só dirijo quando estou totalmente descansado. Se tiver um pouco com sono, paro o carro, busco um hotel, descanso. Depois sigo viajem.

Aprendi isso depois de anos pegando a estrada de madrugada, cansado, às vezes com o tempo ruim. Porém tinha que trazer dinheiro para a casa. Eu pensava que podia controlar meu cansaço, achava que simplesmente saberia quando meu corpo não aguentasse mais. Mas a verdade é que não sabemos, nunca sabemos o nosso limite, só chegamos a essa conclusão quando já é tarde demais para as consequências.

domingo, 27 de outubro de 2013

O Quarto

Em uma das minhas viagens, quando ainda era jovem, me deparei com um sujeito muito estranho. A situação que nos levou a esse encontro não foi a mais normal também. Eu estava em uma rota pelo interior de Minas Gerais, quando parei em uma pequena cidade. O vilarejo possuía apenas uma pousada com quatro quartos. Acredite, somente quatro quartos, sendo o único lugar para descansar. Quando cheguei, a moça da recepção disse que já haviam alugado o último. Desanimado com a notícia, me preparei para dormir no banco de trás da velha Belina.

domingo, 20 de outubro de 2013

O Escuro

Dormir sempre foi um problema para mim. Perdi a conta de quantas vezes eu já coloquei este assuntou em pauta, mas ele sempre volta à tona. Alguns dias atrás, um dos meus netos disse que tinha problemas para dormir. Perguntei o porquê. Ele com muita vergonha me disse ter medo de escuro. Então contei uma história a ele, que começou quando eu ainda era criança.

domingo, 13 de outubro de 2013

A Ilha

Um dos meus hobbies preferidos é pescar. Acho que herdei isso do tempo em que morei na fazenda. Pois bem. Vocês também já devem ter escutado o ditado: “história de pescador”. Quando eu morava na fazenda escutei muitas histórias estranhas envolvendo pescaria, mas mal sabia eu que a mais esquisita iria acontecer comigo.

domingo, 6 de outubro de 2013

O Mensageiro

Quando resolvi pôr no papel as velhas histórias que meus netos adoravam ouvir, não foi somente por eles. Em parte foi também uma forma de homenagear meu pai. Lembro-me de quando era pequeno e adorava ouvir suas historias. Essa experiência se tornou um combustível para contar os feitos que aconteceram durante a minha vida. Por isso deixarei aqui também uma história contada pelo meu pai, em sua homenagem.

domingo, 29 de setembro de 2013

O Sussurro

Algumas vezes estamos sozinhos e sentimos uma presença próxima e de repente chamam o nosso nome. Quando viramos, para nossa frustração continuamos sozinhos. Há quem diga que são anjos da guarda, outros preferem dizer que é um pressagio de morte, mas a verdade é muito mais assustadora que isso. A Poucas pessoas é revelado o real significado, e com certeza prefeririam continuar com a imaginação. Acredite em mim, eu sou uma destas poucas pessoas que tiveram o desprazer de descobrir a verdade.

domingo, 22 de setembro de 2013

A Moeda

Passei boa parte do tempo em minha vida trabalhando como vigia noturno, isso me rendeu momentos inexplicáveis. Tive também outros empregos e um deles foi como mascate, eram tempos mais difíceis. Eu tinha uma Belina azul na época e havia sido mandado embora do meu emprego, como tinha filhos para sustentar peguei o dinheiro comprei alguns doces e quinquilharias em uma revendedora. Sai por cidades do interior do Rio de Janeiro e Minas Gerais na expectativa de ganhar alguns trocados.

domingo, 15 de setembro de 2013

A Garotinha

Nunca me senti bem em um velório ou enterro, pra falar a verdade não era medo, mas uma sensação de não saber como se portar em tal ocasião. Eu não era muito bom em externar meus sentimentos, então ficava inquieto quando ia a um enterro, pois não sabia o que dizer aos parentes e se devia chorar ou coisa parecida. Enfim estes momentos sempre são inadiáveis, após muito tempo sem ir a um velório, recebi em casa um telefonema informando que um grande amigo de infância havia morrido. Nesse período eu já estava casado e o meu primeiro filho já havia nascido.

sábado, 7 de setembro de 2013

O Vizinho

Após cumprir meu tempo de serviço obrigatório no exército acabei voltando para a fazenda do meu pai, onde vivi até os meus vinte um, quando fui tentar a vida em uma pequena cidade no estado do Rio de Janeiro. Há alguns anos uma indústria havia sido construída em uma pequena cidade e muitos migraram para lá. A esperança era de prosperidade, mas não foi o que ocorreu na vida da maioria. A cidade foi construída do zero ao redor da indústria, feita para atender as necessidades dos novos cidadãos, porém havia uma discrepância enorme, os funcionários que ocupavam cargos altos foram morar em bairros planejados pela própria usina, já os que não tinham estudo moravam em bairros de posse improvisados. Pois é, foi em um destes bairros que fui morar, um local longe do centro da cidade, sem ruas asfaltadas, sem esgoto, com iluminação precária e vários outros pormenores.

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

O Colar

Durante a minha adolescência adquiri o habito de praticamente todos os fins de semana dormir na casa da minha avó. Trabalhava a semana inteira na fazenda com meu pai, portanto sexta o que mais queria era ir até a praça da cidade comer pipoca e conversar com os meus amigos. Naqueles tempos não existiam muitas opções de diversão para um adolescente, bem diferente dos dias de hoje. Existia uma coisa que adorávamos fazer, a casa da minha avó tinha um quintal bem grande, então quando era no final da tarde caminhando para a noite, acendíamos uma fogueira e comíamos batata assada, às vezes minha avó não estava tão ocupada com as costuras e nos fazia uma garrafa de café com leite.

domingo, 1 de setembro de 2013

A Mata

Incrível como nossa mente funciona quando estamos com medo, quando eu era pequeno costumava me cobrir com o cobertor ou o lençol, isso me dava uma força incrível para suportar o desespero do desconhecido. Digo “quando era criança”, mas a verdade é que está prática me acompanha até os dias de hoje, lembro-me de uma vez já jovem e Servindo o exército que provavelmente fui salvo da insanidade pelo meu cobertor.

Herança Maldita

Ao longo da minha estrada presenciei coisas que não consigo explicar e outras que mesmo explicando vocês não seriam capazes de entender tamanha a estranheza. Meus netos sempre me ouviram com muita admiração, sempre atentos esperando por uma nova história. Não vivi muito, mas o suficiente para viver os eventos que irei contar nas próximas linhas. Alguns não presenciei, entretanto conheci pessoas que dariam sua própria alma para afirmar o que contaram. Observei em seus olhos quando me disseram a mesma aflição que senti quando tais fatos inexplicáveis aconteceram comigo. Por isso deixo a vocês meus netos a maior herança que podiam herdar, estás paginas malditas contendo toda a espécie de historias mal agorentas que gostavam tanto de escutar.