sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

Promessas de Ano Novo

Da sacada de seu apartamento Humberto tragava uma de suas promessas da ultima virada de ano. Assim como jogos de azar, prostitutas e whisky, o cigarro também era um dos itens não cumpridos de um extenso pacote de medidas para um ano melhor. Que obviamente não vieram a acontecer. Mas de todas as promessas não cumpridas a que de fato lhe amargurava era não ter alguém para dividir a passagem de ano mais uma vez.

Foi então quando os fogos romperam no céu anunciando o primeiro segundo de um novo ano, sua campainha tocou. Espantando ele foi vagarosamente equilibrando um cigarro na mão e um copo de whisky na outra. Abriu a porta desajeitado e deparou com um verdadeiro presente de ano novo.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

Flocos de Neve

Aqui é sempre inverno, estamos com a neve sempre pelo joelho e na maior parte das vezes é escuro. Com uma pequena exceção, existe um curto período em que a luz nos ilumina, mas rapidamente a escuridão toma seu lugar. Não sei precisar há quanto tempo estamos aqui e o pai também não. Sempre que pergunto como viemos parar aqui e como eram as coisas antes, ele responde com sua voz rouca:

— Você faz muitas perguntas filho!

Então assim passamos os nossos dias, minha irmã e eu brincamos no balanço - eu sempre estou empurrando porque sou o mais velho. A mãe está sempre na cozinha de casa mexendo um bolo e o pai está cortando lenha. Afinal aqui é muito frio e precisamos nos aquecer, principalmente nas épocas de escuridão. O chão aqui treme sempre quando está claro e em seguida vem uma nevasca. No início nós tínhamos muito medo, principalmente minha irmã que é pequena, mas já estamos acostumados com isso.

terça-feira, 22 de novembro de 2016

O Trem

Um senhor na casa dos seus cinquenta anos dirigia de um estado para outro, com o intuito de participar de uma reunião de negócios. Ao longo do caminho seu celular tocou várias vezes, mas ele apenas checava de quem era a ligação e desligava a chamada. Assim foi ao longo de todo seu trajeto, até que em um determinado ponto da estrada seu carro começou a falhar. Nervoso, pois estava com medo de perder uma importante reunião, olhou ao seu redor como quem buscasse uma solução divina para o problema.

Em meio ao nervosismo da situação avistou uma pequena placa que indicava uma estrada de chão saindo da rodovia principal, onde estava trafegando. Com o seu carro quase parando, dirigiu por alguns quilômetros estrada adentro, até que chegou em um pequeno vilarejo. Ao chegar na praça do pequeno local, seu carro deu o último suspiro de vida e parou de funcionar.

terça-feira, 8 de novembro de 2016

O Dia Zero

Abriu os olhos. Escutava ao fundo uma melodia extremamente agradável que o fazia lembrar-se de quando era pequeno, e ficava sentado no sofá observando seu pai cantarolar enquanto olhava pela janela em um dia de chuva. Aquela recordação era o mais puro e palatável sabor da verdadeira nostalgia. Algo que sentimos com sons, cheiros ou imagens especificas, que conseguem realmente te transportar a outra época.

Sem mesmo tomar por conhecimento que sua boca estava mexendo, começou a repetir a música em voz alta. Mas seu pai não estava ali, tampouco era um dia chuvoso. As coisas mudaram bastante nestes últimos anos e sentado na sala está seu filho vendo uma manchete de última hora na TV.

sexta-feira, 4 de novembro de 2016

LIVRO - O BECO

Há três anos eu estava sentado em uma mesa de reunião tentando resolver um problema. Quando meu chefe indagou que nossa equipe tinha uma memória curta. Isto me fez viajar e pensar como seria se eu esquecesse um dia da minha vida! 

Comecei então a rascunhar em minha agenda um conto intitulado O Beco. No mesmo dia decidi que montaria um Blog para dividir com as pessoas esses devaneios repentinos. Mas por curiosidade O Beco foi se tornando bem maior que um conto.

Naquela mesma noite nasceu meu blog de contos Beco Qualquer. E junto dele seu irmão gêmeo o livro O Beco, que só veio a ficar pronto de verdade agora três anos depois da primeira centelha criativa.

segunda-feira, 31 de outubro de 2016

Noite de Halloween

Incessantemente ele pedalou sua bicicleta, afinal não é todo dia que se tem um encontro com Geovana. Mesmo com o peito queimando de dor e os joelhos em carne viva ele não desistiria disso. Já havia desistido de muitas coisas na vida apesar de ser jovem. Um exemplo era o livro de fantasia que escreveu durante o verão. Geralmente meninos da oitava série estão botando fogo no mundo durante as férias. Mas Fellipe não! Ele preferia ficar a só escrevendo ou jogando vídeo game.

segunda-feira, 17 de outubro de 2016

Noite de Saci

Nos idos de 1998 tive o prazer de trabalhar na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, especificamente na recuperação de livros e documentos históricos. Muitos destes documentos estão em português arcaico misturado com tupi e eram bem difíceis de ler.  Mas durante uma restauração uma palavra em especial me chamou atenção, Matimpererê.

Foi inevitável não pensar no famoso personagem do nosso folclore Saci – Pererê. Decidi então dar uma olhada melhor ao documento, e vi que se travava de uma carta escrita por um bandeirante chamado António Costa Valente ao seu contratante Mario Garcia Proença. Resolvi transcrever a carta para o português mais atual e traduzir alguns termos em tupi. O resultado vocês podem ler abaixo:

segunda-feira, 3 de outubro de 2016

E-MAIL ANÔNIMO

Este texto abaixo foi enviado para a caixa de e-mail do Beco Qualquer. Não nos responsabilizamos pela veracidade ou opiniões descritas no texto.

Boa tarde.

Assim como você, milhares de pessoas estão recebendo este e-mail. Eu sei que a grande maioria nem chegará a abrir. Mas tenho esperança que pelo menos um irá ler e tentará passar as informações adiante.  Entre os meses de outubro e dezembro de 1977, no estado do Pará, aconteceu um fenômeno conhecido como ”OPERAÇÃO PRATO”, um evento no qual civis entraram em contato direto com O.V.N.I.S. O exército brasileiro foi incumbido de verificar a situação e repassar um relatório ao estado maior.


quinta-feira, 22 de setembro de 2016

Feliz Aniversário

Com o olhar perdido um velho senhor olha a imensidão que eram as suas terras. Segura o copo de whisky com leveza, não por ser educado, mas porque pagou o preço do tempo e agora com seus oitenta anos não possuía mais tanta força no seu corpo. Contemplava o que poderia vir a ser sua última primavera comemorada. Ao seu redor se reunia a imensa família: filhos, netos, bisnetos... Mas nenhum amigo de confiança. Pois os amigos de confiança já haviam sido enterrados ao longo da caminhada.

Sorriu sozinho ao lembrar que construiu todo este império em meio a muita luta. Naqueles tempos de juventude, foi capaz de enfrentar muito homem armado, quando se tratava de aumentar suas terras. Mas hoje, morre de medo de olhar ao relógio, pois sabe que cada segundo a mais passou a ser um segundo a menos.

segunda-feira, 12 de setembro de 2016

Lembranças Esquecidas

Ele acordou em sua velha casa da arvore. Foi um espanto, pois seu pai, que a construiu, foi o mesmo a derrubá-la anos depois,­ após a arvore ser atingida por um raio no final do verão. Estava deitado ao chão sem conforto algum, mas acordou com o descanso de quem havia  dormido em uma cama de palácio.

Sentiu o chão descalço. Vestia sua adorada blusa azul de botões e uma bermuda de pano bem confortável.A sensação era ótima, há muitos anos não sentia isso. Era das aulas da faculdade para o laboratório do laboratório para a faculdade. E se lembrou de que já fora casado com uma mulher maravilhosa, mas a corrida do dia a dia havia os afastado.

sábado, 20 de agosto de 2016

FITA - 030

Não há coisa mais entediante do que limpar casa durante um domingo de sol. Bom. Ao menos foi isso que eu pensei mais cedo. Entretanto devo admitir que o porão está tão cheio de coisas velhas, que a limpeza acabou se tornando uma caçada ao tesouro.

quinta-feira, 14 de julho de 2016

Dia de Acampamento

Sentado na velha mesa de madeira está Hugo. Há três anos este ritual era iniciado pela primeira vez. Ele fez questão de sentar aonde talhou com um velho prego enferrujado seu nome e o de Ana. Sim! Ana é o único motivo que faz Hugo voltar todos os anos a este acampamento. Se não fosse por ela jamais voltaria.

 Ele fica ali sentado, observando as meninas que entram pelo salão principal a procura de Ana. Desde a primeira vez que Hugo a viu ele sabia que ela era especial. Hugo nunca teve muitos amigos, no acampamento Castor não foi diferente. Acostumou-se tanto a ser ignorado que nem percebe que é invisível para o mundo. Mas para Ana não, ela é diferente, ao vê-lo sentado na mesma mesa de madeira aonde se conheceram, a garota corre em sua direção e se senta oferecendo-lhe um grande sorriso.

O sorriso de Ana é o que mais agrada Hugo. É como um remédio para todas as suas dores, como se todo o resto do ano não tivesse existido, só este momento quando a vê. As coisas se tornaram assim desde que se conheceram. Para ser mais exato desde o incidente na floresta!

quarta-feira, 29 de junho de 2016

O Telefonema

A vida é mesmo curiosa, não é verdade? Um dia desses, estava eu sentado em um banco, observando alguns garotos mexendo em seus celulares. Não sou nenhum ancião, mas quando era garoto sentava-me com os amigos para ouvir discos. Mas apenas por alguns minutos, pois na maioria das vezes estávamos subindo em alguma coisa ou correndo para todos os lados. Discos! Aposto que se perguntar a estes garotos eles nem fazem ideia do que seja.

Diferente da minha época, hoje os garotos ficam sentados com seus fones ouvindo música e jogando, mal conversam entre si. Na minha época! Isso soou muito velho. Quando eu era pequeno, só quem tinha dinheiro tinha telefone em casa - e quase não usava porque a ligação era uma fortuna. O que me faz lembrar um dia em especial.

segunda-feira, 13 de junho de 2016

O Humanoide de Energia


Há exatamente dois anos meu pai veio a falecer, era um senhor muito excêntrico. Durante seus últimos anos de vida, passou boa parte do seu tempo em nossa casa de campo rodeado de livro e experimentos. Bebia muito e sempre que estava ébrio balbuciava coisa estranhas como.

- Porque vocês me escolheram? Preciso que vocês voltem! – E a fala mais frequente, que às vezes era pronunciada até mesmo quando dormia, era:

- Eles não estão preparados!

Porém nem sempre as coisas foram assim, meu pai era um sujeito muito brincalhão e divertido, tudo mudou depois de uma temporada que ele passou no norte do país. Ele foi a trabalho realizar uma construção de uma usina. Meu velho era Engenheiro Eletricista e foi contratado como responsável pela implementação da parte elétrica.

Ele nunca falou muito sobre esta experiência, mais sua mudança após este trabalho foi nítida. Depois de sua morte a nossa casa de campo ficou praticamente um ano fechada, íamos lá somente para abrir as janelas e ver se estava tudo bem. Foi quando um vizinho nos ligou, dizendo que a casa havia sido arrombada.