Ele
acordou em sua velha casa da arvore. Foi um espanto, pois seu pai, que a
construiu, foi o mesmo a derrubá-la anos depois, após a arvore ser atingida
por um raio no final do verão. Estava deitado ao chão sem conforto algum, mas
acordou com o descanso de quem havia
dormido em uma cama de palácio.
Sentiu
o chão descalço. Vestia sua adorada blusa azul de botões e uma bermuda de pano
bem confortável.A sensação era ótima, há muitos anos não sentia isso. Era das
aulas da faculdade para o laboratório do laboratório para a faculdade. E se lembrou
de que já fora casado com uma mulher maravilhosa, mas a corrida do dia a dia
havia os afastado.
Nunca
teve tempo para pensar em filhos, talvez por isso o casamento tivesse chegado ao
fim. Chegou a cogitar que ela pudesse estar ali também, por isso correu para a
janela da velha casa na árvore. Mas notou que estava só em uma pequena ilha,
não muito maior do que uns oito metros quadrados, cercada por um imenso lago
que ao seu final banhava uma montanha com os picos cheios de neve. Lembrava em
muito a imagem do Monte Fuji, mas a montanha inteira estava ao seu redor.
Desceu
pela escada de madeira da pequena casa da árvore e constatou que era somente
isso. Uma pequena casa da árvore em uma ilhota, dentro de um lago que parecia
estar cercado por montanhas. Mas como havia parado neste lugar se não possuía
nenhum sinal de que havia um barco por ali? Sentou e pôs a mente para
trabalhar, coisa que estava doutrinado a fazer sempre que precisava chegar a
uma conclusão lógica.
Mas
sua memória era como um rascunho velho faltando páginas. O que parecia ser o último
mês de que se lembrava, eram apenas fragmentos desconexos. Ao tentar juntar os
pedaços foi arrebatado por uma forte dor de cabeça. Sem saber o que fazer,
começou a chorar e se deu conta que não fazia isto há muito tempo. Até que uma
voz leve e confortante quebrou o seu choro.
- Olá!
Que bom que te encontrei, até que foi rápido.
Levantou
a cabeça e pôde observar ao seu lado a mulher que havia sido sua esposa. Estava
usando um vestido verde longo, que sempre adorava vê-la usando. Estava com os
cabelos soltos e um sorriso reconfortante. Levantou rapidamente e disse:
- O
que estava fazendo aqui? O que nós estamos fazendo aqui? Na verdade o que é
aqui?
Ela
abriu um largo sorriso.
- Calma!
Eu não sou a Olga. Você me vê como ela porque é o que você precisava ver agora.
A sua mente torna tudo o mais confortável possível.
Ele
franziu a testa e rebateu as palavras da mulher.
-
Como assim não é Olga? Então o que você é?
- O
importante não é quem eu sou e sim quem é você. O senhor é Isaac Peterson
correto?!
O
homem olhou ainda assustado e consentiu acenando a cabeça.
- O senhor
é um renomado neurocientista ganhador do prêmio Nobel de medicina. O senhor lembra-se
deste fato?
O
homem olhou ao seu redor e respondeu.
-
Sim.
-Senhor
Isaac, consegue lembrar qual foi a descoberta que lhe rendeu este prêmio?
- Ganhei
o Nobel por demonstrar que o cérebro mesmo morto consegue guardar resquícios de
suas lembranças e que é possível através da robótica extrair algumas destas
lembranças.
Peterson
parou contemplativo e com medo da resposta indagou:
Eu
estou morto?!
A
mulher deu um passo à frente pegou em sua mão e continuou.
-
Peterson todos nós sabíamos que entenderia isso rapidamente. Agora preciso que
mantenha a sua mente aberta. Tudo bem?
O
velho homem olhou nos olhos do que parecia ser sua antiga esposa e disse:
-
Pode me contar! Como eu morri? E porque você está aqui?
A mulher
sorriu mais uma vez e prosseguiu.
-
Você morreu em um acidente de carro enquanto falava com sua ex- esposa em um
aparelho que chamavam de smartfone. Seu carro atravessou a pista e acertou um
caminhão. Isso foi no ano de 2025.
Peterson
começou a suar frio e a coçar a sua barba.
- Em
que ano estamos agora senhorita. Poderia me dizer?
-
Claro. Estamos no ano de 2125, muita coisa mudou desde a sua morte.
- Se
estou morto porque você está aqui na minha mente?
- Hoje
faz cem anos desde que você partiu. E trabalhamos arduamente nos últimos anos
para que nesta data em especial pudéssemos dar o maior passo dado até hoje pela
ciência. Nós vamos lhe trazer de volta a vida.
O
homem que até então estava extasiado com tudo que estava ocorrendo, mudou o seu
semblante, virou-se para o que parecia ser a sua antiga esposa e falou:
- Eu
não vou voltar! Você não é Olga! Portanto não sabe qual foi a última frase que
trocamos antes do meu acidente!
A mulher
olhou com um ar de surpresa e segurou o rosto em lágrimas de Peterson.
-
Pode me dizer senhor Peterson. Estou aqui para te ajudar.
Ele
olhou com os olhos vermelhos de lágrimas.
- Eu
desisto da vida! Foi isso que eu disse a ela.
A
mulher sumiu, tudo ao redor de Peterson se tornou escuro sem nenhuma referência
espacial e ele se viu envolto por uma escuridão plena. E escutou uma voz bem ao
fundo dizendo.
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