domingo, 24 de novembro de 2013

A Cabana

Sabe quando as coisas estão tensas? Gosto de dirigir, para por a cabeça no lugar. Pego o carro e dirijo sem me preocupar aonde vou. Há algum tempo atrás após brigar com a minha esposa, peguei o carro e tomei uma velha estrada de chão. Já era fim de tarde e o sol se punha atrás das árvores.

Estava distraído com a paisagem e quase já estava me sentindo bem, resolvi então parar o carro e dar uma olhada. Fiquei ali parado por algum tempo, admirando as árvores. Quando começou a chover, voltei para o carro. Fui dar a partida e nada, somente um som esganiçado. Tentei por vezes seguidas fazer com que o carro funcionasse. Mas não deu em nada.


A chuva apertou e não dava para ver nada fora do carro. A não ser uma pequena luz entre as árvores. Sempre carrego no porta-malas uma capa de chuva, coloquei e resolvi caminhar em direção à luz entre as árvores, na esperança de encontrar uma casa ou alguém que pudesse ajudar com o carro.

Não andei muito mata adentro e já consegui observar uma velha choupana de madeira, com telhado feito de palha. Em uma pequena janela embaçada dava para ver o foco de luz que avistei do carro. Tentei enxergar lá dentro, porém a janela estava com o vidro muito sujo. Parecia que a casa estava abandonada, mas a luz lá dentro me encorajou a bater na porta.  

Bate uma, duas, três, quatro vezes e nada. Já ia me virando e voltando para o carro em meio à chuva, quando ouvi um ranger velho de madeira estalando atrás de mim. E uma voz senil e rouca dizendo:

- Boa noite, posso lhe ajudar?

Era um velho sujo, trajando farrapos, seu cheiro era nauseante. Aliás, assim que abriu a porta deu para sentir odor da casa, que era extremamente desagradável. Senti que não adiantaria nada, provavelmente não teria um telefone na casa que pudesse usar, afinal naquela época não tínhamos celulares. Mas por cortesia me desculpei pelo incomodo e expliquei porque bati em sua porta.

- Desculpe senhor, meu carro quebrou pensei que pudesse ajudar. Mas tudo bem, já vou voltando.

- A sim. Pode ser a bateria! Entre, vou pegar uma bateria que tenho aqui e podemos testar.

O velho entrou e deixou a porta aberta, sem conseguir dizer não eu entrei atrás. Dei uma olhada nas velhas mobílias da casa do homem. A casa parecia só ter dois cômodos, uma sala misturada com cozinha, e o outro parecia ser um quarto. Foi no quarto que o velho entrou e começou a mexer.

Após alguns minutos lá dentro o cheiro já não me incomodava tanto. Consegui então prestar uma melhor atenção no cômodo, tinha um estranho tapete de couro no chão, um sofá de couro, e outros utensílios em couro como uma velha lamparina. Essa ultima era o único ponto de luz da casa. Quando o velho saiu do quarto ele estava com uma chave de roda na mão e uma bateria. Não aguentei e perguntei:

- O senhor tem muitas peças em couro aqui! O senhor mesmo as faz?

- Sim, já tive um pequeno curtume há muitos anos atrás, durante séculos foi o meu ganha pão.

- Nossa, mas porque parou então? Foi devido à idade?

-Não com a idade só aprimorei minha aptidão, os moradores que não entenderam bem o meu trabalho.

- Por que não?

- Digamos que couro humano não é muito apreciado!

As palavras não foram compatíveis com a minha visão, como um senhor velho e indefeso disse isso? Então resolvi dar uma olhada melhor no tapete, e notei que o que tornava o tapete de couro estranho, eram algumas marcas, que na verdade eram tatuagens. Sim! Tatuagens, foi quando percebi que realmente tudo era feito de couro humano. O velho notou minha feição de desespero e sorriu dizendo:

- Sabia que quando você vai matar alguém para usar o couro, a melhor forma e dando uma pancada na cabeça. Pois assim não estraga a pele.

E bateu com a chave de roda na mão.

A minha mente agiu por impulso, antes do velho bater pela segunda vez com a chave de roda na mão eu peguei a lamparina, e atirei no velho sofá de couro. O fogo se espalhou rapidamente e ficou entre eu e o velho. Passei correndo pela porta, corri o mais rápido que pude até o carro. Quando cheguei olhei para trás, a pequena luz que outrora me chamou atenção havia virado um clarão esfumaçado em meio à floresta.

Entrei no carro e tentei dar a partida, para a minha sorte o carro pegou. Sai o mais rápido que pude dali. No outro dia as televisões noticiaram o incêndio. Lembro-me do repórter dizendo:


- Um incêndio tomou conta de uma pequena mata, aparentemente o início se deu devido a uma lamparina em uma cabana. O responsável não foi encontrado e nenhum corpo foi identificado dentro da cabana.

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