Sabe quando as coisas estão
tensas? Gosto de dirigir, para por a cabeça no lugar. Pego o carro e dirijo sem
me preocupar aonde vou. Há algum tempo atrás após brigar com a minha esposa,
peguei o carro e tomei uma velha estrada de chão. Já era fim de tarde e o sol
se punha atrás das árvores.
Estava distraído com a paisagem e
quase já estava me sentindo bem, resolvi então parar o carro e dar uma olhada. Fiquei
ali parado por algum tempo, admirando as árvores. Quando começou a chover,
voltei para o carro. Fui dar a partida e nada, somente um som esganiçado.
Tentei por vezes seguidas fazer com que o carro funcionasse. Mas não deu em
nada.
A chuva apertou e não dava para
ver nada fora do carro. A não ser uma pequena luz entre as árvores. Sempre carrego
no porta-malas uma capa de chuva, coloquei e resolvi caminhar em direção à luz entre
as árvores, na esperança de encontrar uma casa ou alguém que pudesse ajudar com
o carro.
Não andei muito mata adentro e já
consegui observar uma velha choupana de madeira, com telhado feito de palha. Em
uma pequena janela embaçada dava para ver o foco de luz que avistei do carro. Tentei
enxergar lá dentro, porém a janela estava com o vidro muito sujo. Parecia que a
casa estava abandonada, mas a luz lá dentro me encorajou a bater na porta.
Bate uma, duas, três, quatro
vezes e nada. Já ia me virando e voltando para o carro em meio à chuva, quando
ouvi um ranger velho de madeira estalando atrás de mim. E uma voz senil e rouca
dizendo:
- Boa noite, posso lhe ajudar?
Era um velho sujo, trajando farrapos,
seu cheiro era nauseante. Aliás, assim que abriu a porta deu para sentir odor
da casa, que era extremamente desagradável. Senti que não adiantaria nada, provavelmente
não teria um telefone na casa que pudesse usar, afinal naquela época não tínhamos
celulares. Mas por cortesia me desculpei pelo incomodo e expliquei porque bati
em sua porta.
- Desculpe senhor, meu carro
quebrou pensei que pudesse ajudar. Mas tudo bem, já vou voltando.
- A sim. Pode ser a bateria! Entre,
vou pegar uma bateria que tenho aqui e podemos testar.
O velho entrou e deixou a porta
aberta, sem conseguir dizer não eu entrei atrás. Dei uma olhada nas velhas mobílias
da casa do homem. A casa parecia só ter dois cômodos, uma sala misturada com
cozinha, e o outro parecia ser um quarto. Foi no quarto que o velho entrou e
começou a mexer.
Após alguns minutos lá dentro o
cheiro já não me incomodava tanto. Consegui então prestar uma melhor atenção no
cômodo, tinha um estranho tapete de couro no chão, um sofá de couro, e outros utensílios
em couro como uma velha lamparina. Essa ultima era o único ponto de luz da
casa. Quando o velho saiu do quarto ele estava com uma chave de roda na mão e
uma bateria. Não aguentei e perguntei:
- O senhor tem muitas peças em
couro aqui! O senhor mesmo as faz?
- Sim, já tive um pequeno curtume
há muitos anos atrás, durante séculos foi o meu ganha pão.
- Nossa, mas porque parou então?
Foi devido à idade?
-Não com a idade só aprimorei
minha aptidão, os moradores que não entenderam bem o meu trabalho.
- Por que não?
- Digamos que couro humano não é
muito apreciado!
As palavras não foram compatíveis
com a minha visão, como um senhor velho e indefeso disse isso? Então resolvi
dar uma olhada melhor no tapete, e notei que o que tornava o tapete de couro
estranho, eram algumas marcas, que na verdade eram tatuagens. Sim! Tatuagens, foi
quando percebi que realmente tudo era feito de couro humano. O velho notou
minha feição de desespero e sorriu dizendo:
- Sabia que quando você vai matar
alguém para usar o couro, a melhor forma e dando uma pancada na cabeça. Pois
assim não estraga a pele.
E bateu com a chave de roda na
mão.
A minha mente agiu por impulso,
antes do velho bater pela segunda vez com a chave de roda na mão eu peguei a
lamparina, e atirei no velho sofá de couro. O fogo se espalhou rapidamente e
ficou entre eu e o velho. Passei correndo pela porta, corri o mais rápido que
pude até o carro. Quando cheguei olhei para trás, a pequena luz que outrora me
chamou atenção havia virado um clarão esfumaçado em meio à floresta.
Entrei no carro e tentei dar a
partida, para a minha sorte o carro pegou. Sai o mais rápido que pude dali. No
outro dia as televisões noticiaram o incêndio. Lembro-me do repórter dizendo:
- Um incêndio tomou conta de uma
pequena mata, aparentemente o início se deu devido a uma lamparina em uma
cabana. O responsável não foi encontrado e nenhum corpo foi identificado dentro
da cabana.
Nenhum comentário:
Postar um comentário