Todo bairro possui uma casa
abandonada, onde todos afirmam que os últimos moradores saíram por causa do mau
agouro, ou que alguém morreu dentro da casa, por isso ninguém a compra. E por
ai vai, há sempre um motivo para desconfiarmos destes velhos lugares
abandonados. Neste caso, foi um elevador desativado dentro de uma fábrica. Na
qual trabalhei durante muito tempo.
Havia um senhor bem velhinho que tomava conta
da manutenção dos prédios, senhor Antônio. Era muito simpático, porém sempre
que chegava o mês de agosto ele ficava recluso, quase não falava. Foi durante
este mês que há alguns anos atrás, o elevador desativado, simplesmente
despencou no posso e bateu lá no ultimo andar. Depois disso pegou fogo, com
seis pessoas dentro. Antônio foi o primeiro a chegar ao local, e ouviu as
pessoas agonizando de dor dentro do elevador. Ninguém sobreviveu ao acidente.
Tentei conversar com ele sobre o
assunto, mas ele me ignorou e desconversou. O fato é que a empresa iria
reativar o elevador, devido ao aumento do número de funcionários. Isso deixou o
senhor Antônio fora de si. Ele chegou até tentar convencer o presidente da
empresa de que o elevador era amaldiçoado. Por fim ele pediu demissão, e saiu
da sala de recursos humanos dizendo:
- Eu não vou assistir a este
horror novamente. Se vocês querem abrir os portões do inferno façam sem mim.
Encontrei com ele no corredor
quando estava indo embora e o abordei. Pela primeira vez eu vi o senhor Antônio
transtornado. Tentei persuadi-lo a voltar atrás no pedido de demissão. Mas ele
foi extremamente rude em sua resposta. Mesmo assim retruquei:
- Senhor Antônio eu sei que você
deve ter passado por uma situação horrível, mas já passou pensa no seu futuro.
Vai deixar o emprego por causa disso.
- Garoto, você não entende nada,
o mal habita naquele lugar. Aquilo de alguma forma é um portal para o inferno.
Vá embora daqui enquanto pode.
- Não sou covarde senhor Antônio!
O velho parou no meio do
corredor, e retirou a camisa. O corpo dele era todo marcado por queimaduras.
- Eu não cheguei primeiro! Eu
estava lá dentro. – Disse o velho com um tom de abatimento.
O senhor Antônio se virou para
mim e pediu para que eu sentasse no corredor. E começou a contar o que
realmente houve no dia do acidente.
Ele estava de plantão durante a
noite, pois a subestação da fábrica havia estourado com um raio, portanto a
fábrica estava parada e com boa parte as escuras. Ele junto de seis outros
colegas estavam indo até o porão, verificar a fiação e ligar um dos geradores
reserva. Misteriosamente mesmo com todo prédio às escuras o elevador de serviço
estava aceso, eles então foram até ele verificar se estava funcionando. Após
mandarem para o andar de cima e o chamarem de volta. Tiveram certeza de que o elevador
estava funcionado, mesmo com todo o resto do prédio as escuras.
Entraram e apertaram o botão para
o porão, o elevador desceu naturalmente, entretanto quando chegaram lá embaixo à
porta não queria abrir. Tentaram os sete forçar a porta para abrir. Foi inútil,
de repente eles sentiram o elevador descendo. Um dos funcionários indagou que
era impossível já estavam no porão. Neste momento senhor Antônio percebeu que o
mostrador do elevador, estava mostrando andares negativos com um menos na
frente dos números. O elevador continuou descendo até chegar ao menos nove.
Após parar, o elevador abriu
normalmente. Fora dele uma escuridão profunda abrigava o local, todos saíram e
ligaram as lanternas. Havia um cheiro forte de enxofre, e o andar começou a
ficar extremamente quente. As lanternas não adiantavam muito, iluminavam
praticamente um palmo do olho somente. Foi quando eles começaram a ouvir
sussurros, seu Antônio se deu conta de que não conseguia identificar o local
como sendo o porão. E pediu a todos que voltassem para o elevador. Os sussurros
se tornaram gritos de desespero, foi quando o primeiro dos sete foi levado pela
escuridão.
Eles correram até a porta do
elevador, mas ela não queria abrir, bateram, chutaram, esmurraram a porta
desesperados. E ela não abriu, um á um, foram puxados para a escuridão. Senhor
Antônio já havia perdido as esperanças, quando a porta do elevador abriu. Ele
entrou correndo e apertou todos os botões, mas elevador não saiu do lugar. De
dentro do elevador, ele observou enormes olhos amarelados dentro da escuridão.
Quando forçou o olhar o primeiro corpo veio voando, queimado e mutilado.
Derrubou o senhor Antônio, em seguida os corpos dos seis funcionários foram
jogados dentro do elevador.
Banhado em sangue e caído debaixo
dos corpos, ele viu o olho amarelado se aproximar. Uma boca enorme, com um
hálito forte de enxofre se abriu, esguichando um jato de fogo dentro do
elevador. O senhor Antônio teve as costas toda queimada, mas foi protegido
pelos corpos de seus amigos, amontados sobre o seu. As portas se fecharam, e o
elevador subiu até o porão. Mas quando parou e abriu, senhor Antônio notou que estava
no mesmo andar que entraram.
Saiu ainda zonzo do elevador, já
sabendo o que devia fazer. Abriu a porta do andar de cima com um pé de cabra. E
com um disco de corte cortou os cabos, deixando o elevador cair no poço. Depois
disso chamou a todos pelo radio comunicando o acidente.
Os olhos já cansados do velho me
passaram muita sinceridade, enquanto descrevia o ocorrido notei que ele
praticamente sentia as sensações de desespero e dor novamente. Não consegui
fazer com que ele desistisse da demissão. Mas tive que respeita-lo, cada um
carrega sua assombração pessoal nesta vida.
O elevador não foi reaberto, pois alguns dias depois, senhor Antônio entrou com um velho crachá na fábrica. Foi
até o porão, entrou no elevador e explodiu todo o andar. O prédio quase veio
abaixo. Ele morreu junto com as explosões no andar do porão.
Seu filho mais tarde contou que achou um caderno de anotações, seu Antônio pelo visto, havia passado o resto da vida depois do "acidente" pesquisando sobre os nove infernos. E na ultima página estava escrito:
"Somente quem abriu pode selar o portal."
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