domingo, 17 de novembro de 2013

O Banquete

Sempre que leio algum panfleto sobre pessoas desaparecidas, minha mente volta àquela estranha cidade. Desta vez não direi o estado em que fica, somente que está na região norte do país. O motivo da descrição é simples, foi algo tão surreal que presenciei em minha estadia naquela cidade, que poderia causar a repudia de quem ler estas linhas.

O grande estranho daquela cidade aconteceu assim que saltei do meu velho carro. Como o de costume, eu procurava um local para descansar e me alimentar. Um velho poste de madeira abrigava uma dezena de cartazes, resolvi dar uma olhada em busca de uma pousada ou coisa parecida. Porém todos os cartazes indicavam o desaparecimento de pessoas. Devia ter pelo menos uns vinte cartazes.


Já estava urrando de fome e resolvi parar um senhor na rua e perguntá-lo. Lembro que a conversa foi bem rápida e o senhor muito hospitaleiro. Ao perguntar sobre um local para comer ele me disse da seguinte forma:

- Olha! O senhor já experimentou um cozido á Tupinambá? Pois bem olhe, em nenhum lugar da região existe um melhor que o da dona Tereza. Só seguir no final desta rua.

Pois bem, eu estava faminto, portanto fui rápido verificar se era realmente bom. Chegando ao final da rua me deparei com uma pequena pensão muito bem arrumada. Com uma faixa pintada à mão. “Tupinambá da Dona Tereza, reconhecido o melhor da região.”

Uma senhora rechonchuda me recebeu com um grande sorriso no rosto. Ela era bem simples, de fala mansa e aparentava muita bondade. Dava para ver nitidamente em seus traços que era descendente de índios. E como todos os outros que me deparei na cidade, parecia ser bem hospitaleira. Eu brinquei com ela dizendo:

- Este cozido é bom mesmo?

E rapidamente ele respondeu com um sorriso.

- Oxe! Se é, vem gente de todo o estado para experimentar meu cozido á Tupinambá. Sente que vou lhe preparar um prato.

Em um piscar de olhos a mesa estava recheada de comida, pão, frutas, arroz e um belo caldeirão no centro que cheirava maravilhosamente bem. Era o famoso cozido, e me refastelei com tanta comida. E sem mentir, aquele cozido era uma das coisas mais gostosas que eu já havia provado. Repeti o prato umas duas vezes. Dona Tereza ainda me trouxe uma pinguinha no final para fazer a digestão.

Depois disso embarcamos em uma longa conversa. Foi ai que notei algo estranho, durante toda conversa Dona Tereza, levava a conversa para o fato de eu estar longe da minha cidade. E chegou até a perguntar se eu tinha família por perto. Mas o mais esquisito foi quando ela me perguntou se eu havia avisado a alguém que estava indo para esta cidade.

Mas o sono já estava me atrapalhando a pensar e ela me ofereceu um lugar para deitar, afinal era uma pensão. Lembro-me de dizer a ela:

- Não pretendo ficar na cidade, vou embora agora à tarde.

E com um grande sorriso ela disse:

-Não se preocupe eu não vou cobrar, já que você não irá passar a noite.

Eu estava tão cansado que aceitei. Ao chegar ao quarto deitei rapidamente, não demorou muito para o sono levar minha consciência embora. Após um tempo incalculável para mim, eu acordei com um gosto amargo na boca. E me deparei com algo bizarro. Eu estava deitado sobre uma mesa fria de mármore, e ao meu redor haviam varias peças de carne penduradas em ganchos. Levantei rapidamente e olhei ao meu redor com calma.

Eu não queria acreditar, aquilo era demais para mim, porém algumas das peças pareciam ser pedaços humanos. Minha dúvida logo foi esclarecida, quando em um canto encontrei um cesto, cheio de cabeças. Vomitei de nojo, mas eu não conseguia entender porque fui parar neste local. Então abri uma porta com cuidado que dava acesso a uma escada. Subi e no final, me deparei com uma grande cozinha.

E lá estava em pé, Dona Tereza, com uma grande colher de pau ela mexia um caldeirão fervendo.  Pronunciava algumas palavras que pareciam vindas do Tupi. Não entendi muito bem o que ela dizia. Esgueirei-me passando enfrente a cozinha, por sorte não fui notado. Consegui sair por uma janela aberta na casa e fui até meu carro. Minhas chaves ainda estavam no meu bolso. Dei partida no carro e fui embora o mais rápido que pude.

Mas não podia ficar assim, resolvi ir até a delegacia local e contar o que havia acontecido. Há esta hora eu já tinha juntado as coisas na minha mente. Por isso os cartazes de desaparecidos. Ao chegar à delegacia me deparei com uma velha casa, com apenas uma viatura surrada parada em frente. Tentei não aparentar desespero. E puxei assunto com o único policial no momento:

- Boa noite senhor. Pode me ajudar?  – Eu disse.

E com muita educação ele respondeu:

- Boa noite. Posso te ajudar forasteiro, parece cansado. Você está sozinho?

- Sim estou. – Respondi tentando manter a compostura.

- Se estiver procurando um local para ficar, indico a pensão da Dona Tereza.


Neste momento eu entendi, ela não estava sozinha nisso tudo. Eu não disse mais nada, me virei, entrei no carro e fui embora o mais rápido que pude.

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