domingo, 22 de setembro de 2013

A Moeda

Passei boa parte do tempo em minha vida trabalhando como vigia noturno, isso me rendeu momentos inexplicáveis. Tive também outros empregos e um deles foi como mascate, eram tempos mais difíceis. Eu tinha uma Belina azul na época e havia sido mandado embora do meu emprego, como tinha filhos para sustentar peguei o dinheiro comprei alguns doces e quinquilharias em uma revendedora. Sai por cidades do interior do Rio de Janeiro e Minas Gerais na expectativa de ganhar alguns trocados.

Durante uma tarde chuvosa parei em uma pequena mercearia para oferecer mercadorias, um senhor já bem velhinho me atendeu. Ofereci alguns pacotes de biscoito de polvilho o senhor se interessou, quando fui partir a Belina não pegou. Muito educado o velhinho me convidou a esperar na mercearia pelo fim da chuva, prometeu me ajudar ao ver o ocorrido com o carro, assim que cessasse a chuva. Agradecido puxei conversa, já que a chuva parecia que iria demorar.

Perguntei se tinha filhos, o senhor com um olhar amargurado respondeu que infelizmente todos haviam morrido. Fiquei sem graça na hora, e troquei de assunto perguntei há quanto tempo morava na cidade. Ele contou que desde que nascera vivia ali e rapidamente respondeu que seu desejo era morrer e ser enterrado na mesma cidade. Sem ter muito que dizer me calei então. Porém a chuva não passava e resolvi puxar conversa novamente, resolvi falar sobre dinheiro e como as coisas não estavam fáceis. O senhor retirou os óculos me fitou nos olhos e disse:

- O senhor não sabe o real valor do dinheiro meu caro.

Pedi desculpas e perguntei se havia incomodado com a minha conversa, ele deu um pequeno sorriso e falou que ia me contar uma historia para que eu entendesse um pouco sobre o valor das coisas. Disse que ha alguns anos atrás um jovem cansado de trabalhar com seu pai resolveu juntar suas coisas e viajar sozinho para cidade grande, achava que a cidade lhe traria oportunidades de enriquecer. Passaram então alguns anos e o jovem rapaz não havia conseguido acumular tal fortuna.

Então um dia saindo do emprego resolveu parar em um boteco para beber, depois de vários copos de pinga, notou a entrada de um sujeito que aparentava ter seus cinquenta anos, era um senhor muito bem vestido, usava terno preto, camisa preta, gravata preta, sapato marrom avermelhado e abotoaduras douradas com pedras vermelhas. O Homem entrou direto no bar e foi até o rapaz e sem rodeios lhe fez uma pergunta.

- Você veio até aqui atrás de dinheiro não é?

O rapaz ficou com medo a voz era tão imperativa que fazia suas vértebras vibrarem, não conseguia dissimular sua cara de pavor. Mesmo assim respondeu ao sujeito.

- Sim. Vim pra esta cidade pra fazer dinheiro.

O homem de terno preto estendeu a mão e abriu, nela continha uma moeda de aparência muita antiga escrita em uma língua estranha. Olhou para o rapaz e murmurou.

- Tome. Com está moeda você comprará tudo que precisar com seu devido valor, basta aceitar a moeda de coração.

O rapaz pegou a moeda agradeceu e a colocou no bolso, ficou ali no bar por mais algumas horas bebendo, até perder a conta de quanto havia bebido. Quando foi pagar a conta percebeu que não tinha dinheiro para saldar a divida. Mas o dono do bar disse que não havia problema, era só ele fazer um pequeno serviço para ele, entregou uma arma na sua mão, deu o endereço e disse:

- Mate o homem nesta casa e sua divida estará perdoada.

O rapaz foi sem hesitar, chegando lá deu um tiro no homem que estava deitando em uma cama, quando chegou em casa ficou desesperado pensando no que havia feito, mas não demorou muito para que novas propostas de pessoas diferentes chegassem. Assim foi durante anos, até que um homem poderoso bateu em sua porta e pediu que trabalhasse para ele, então matar se tornou sua nova profissão, ele casou e teve dois filhos, tinha uma vida boa e muito dinheiro guardado.

Os filhos já estavam crescidos e o rapaz se tornou homem e decidiu que era a hora de parar, chegou até o homem poderoso para qual trabalhava e disse que queria sair, o homem disse que estava bem só queria que fizesse um ultimo serviço. Pediu para que retornasse na casa dele no dia seguinte, assim como combinado no dia seguinte ele estava lá. O homem apontou para um rapaz encapuzado de joelhos no chão e disse:

- Como ultimo serviço mate esse para mim, ele e o irmão me devem muito dinheiro assim o outro verá que não estou de brincadeira.

Sem hesitar ele atirou, o rapaz caiu e o capuz saiu de sua cabeça, para sua surpresa era um de seus filhos, desesperado sem saber o que fazer, o rapaz que agora se tornara homem entrou em desespero e tenteou atirar em seu chefe, mas a arma mascou. O sujeito disse com voz áspera:

- Você me desapontou, mas pelos anos de serviço não vou lhe matar só me pague o que seu filho me deve.

A dívida era muito grande e ele resolveu não pagar a final ele já havia feito ele matar um de seus filhos o que mais queria, além do mas havia passado a vida juntando sua aposentadoria, decidiu que iria fugir com seu filho e esposa sem pagar a dívida. Não foi muito longe, durante a fuga enquanto estavam escondidos em um hotel saiu à noite para comprar cigarros e quando voltou se deparou com o filho e a esposa mortos a facadas. E na parede escrito em sangue, pague o que me deve.

Não havia mais saída, vendeu tudo pegou todo seu dinheiro e quitou a divida, assim pode retornar com vida a antiga cidade que morava, quando chegou já era tarde seu pai havia morrido. Ao menos herdou a mercearia e ficou condenado a passar o resto de sua vida ali atrás do balcão que tanto repudiou em sua juventude.


Quando o velho terminou a historia a chuva havia acabado, fui até meu carro dar a partida e ele voltou a funcionar, decidi então comprar um maço de cigarros. E ele me deu o troco em moedas e eu segui viajem, no momento não reparei, mas depois quando fui contar o troco já na estrada percebi que uma das moedas tinha uma aparência de muito antiga e estava escrita em uma língua totalmente desconhecida.

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