Com
o olhar perdido um velho senhor olha a imensidão que eram
as suas terras. Segura o copo de whisky com leveza, não por ser educado, mas
porque pagou o preço do tempo e agora com seus oitenta anos não possuía mais
tanta força no seu corpo. Contemplava o que poderia vir a ser sua última primavera
comemorada. Ao seu redor se reunia a imensa família: filhos, netos, bisnetos...
Mas nenhum amigo de confiança. Pois os amigos de confiança já haviam sido
enterrados ao longo da caminhada.
Sorriu
sozinho ao lembrar que construiu todo este império em meio a muita luta.
Naqueles tempos de juventude, foi capaz de enfrentar muito homem armado, quando
se tratava de aumentar suas terras. Mas hoje, morre de medo de olhar ao
relógio, pois sabe que cada segundo a mais passou a ser um segundo a menos.
Chama
um de seus guarda costas e pede para que ele vá até o moço e o chame. Deseja
ter uma conversa com o rapaz. Quem sabe a sua vivacidade alegrasse este velho
que já estava contando os seus dias. Com um sorriso largo, o jovem rapaz vem em
sua direção e o saúda.
— Bom dia Senhor Venâncio.
O
velho dá um sorriso com sua boca torta e olhar desconjuntado.
— Bom dia rapaz. Você é quem mesmo?
Com
o rosto rubro o rapaz responde.
— Desculpe, sou amigo da sua neta
Natália. Ela que me convidou para sua festa.
— Não precisa se desculpar rapaz. Só
queria uma boa conversa, afinal você parece tão vivaz e alegre. O que te faz
ser assim?
O
rapaz dá um sorriso largo e sem pestanejar dispara:
— Eu vivo a vida, cada segundo sem
esperar que o próximo venha. Se o próximo segundo vier bem, se não, será um
ultimo segundo bem vivido.
O
velho dá uma risada, e não acredita que um conselho de um jovem possa ser tão
útil. Como é simples ser feliz. A sua vida apesar de toda riqueza, foi muito
amarga.Se tivesse o pensamento que este jovem tem, talvez tivesse tido menos
tempo de vida, porém teria vivido mais.
— Olha rapaz, minha propriedade vai até
aonde sua vista morre, eu tenho mais umas cinco casas fora esta fazenda.
Carros, barcos, helicóptero e ainda assim invejo a sua vida.
— Bom, eu não trouxe nenhum presente
para o senhor, pois imaginava que já tivesse de tudo mesmo. Mas há muitos anos
eu ganhei esta moeda. Quem me deu disse que ela pode lhe ofertar um desejo.
Tome para o senhor de presente.
O
velho deu uma risada, pensando consigo mesmo o quão espirituoso era este
garoto. Quem dera pudesse ser igual ele e acreditar que essas coisas existem.
Mas não quis discutir, apenas aceitou e guardou a moeda em seu bolso. O garoto
levantou e disse suas últimas palavras:
— Somente duas coisas. A primeira é que
seu desejo só durará doze horas. A segunda é que para funcionar o senhor
precisa dizer:”Eu daria qualquer coisa para, e
complete a frase com o que deseja”.
O
dia rapidamente passou e se fez noite. O senhor já não tinha mais a mesma
disposição, entretanto permaneceu em sua sala até por volta da meia noite. Já
estava ébrio quando olhou no espelho e viu sou corpo já vitimado pelos anos.
Foi quando percebeu que com uma das mãos segurava a moeda que lhe foi dada pela
manhã. Apertou-a bem e sem saber o motivo, disse olhando ao espelho:
— Eu daria qualquer coisa para ser jovem
novamente.
Mas
o velho de corpo decrépito continuava em frente ao espelho, e riu de si mesmo
por acreditar em tal tolice. Seu momento de contemplação foi interrompido
quando alguém adentrou a sala e disse:
— Oi, você viu meu pai por aqui?
— Amélia? Sou eu, não me reconhece.
A
senhora já com seus cinquenta e poucos anos, sorriu sem graça.
— Me desculpa, mas não! A família é tão
grande, você é de qual parte mesmo?
Neste
momento ele se olhou no espelho mais uma vez e constatou que o velho Venâncio
ainda estava ali. Mas ao olhar suas mãos com os próprios olhos viu que todas as
manchas que deduravam sua senilidade haviam sumido junto com a pele caída que lembrava
um pescoço de tartaruga.
— Sou um primo distante. Acho que o seu
pai, o seu Venâncio foi se deitar. Com licença, eu preciso ir lá fora.
Venâncio
sai andando pela porta, mas andar não bastava. Como um trem que levemente
começa a sair da estação o seu andar se torna uma corrida. Que o levou a todo
vapor para um de seus estábulos. Pegou um cavalo e cavalgou noite adentro com
vento no seu rosto até um riacho. Subiu em uma árvore, coisa que não fazia há
tempos, e pulou de ponta no rio. Nadou até a exaustão.
Subiu
novamente em seu cavalo e assobiando foi para cidade. Ao chegar foi direto a um
bordel, onde bebeu e amou durante a noite toda. Não acreditou que aquilo estava
acontecendo. Era jovem mais uma vez! Podia viver toda a sua vida novamente, mas
agora com dinheiro, viveria de verdade.
Mas
uma dúvida tirou sua felicidade, ao lembrar o que o rapaz havia lhe dito. “Seu
desejo durará somente doze horas”. Divertiu-se tanto que já era de manhã e não
havia sequer pregado o olho.Resolveu conferir no relógio e descobriu que já
eram dez horas da manhã do outro dia. Subiu no seu cavalo e foi pra casa, aonde
pela janela entrou escondido em seu quarto.
Deitou
na cama a espera do relógio, e novamente o relógio era o seu algoz. Ao bater
meio dia o velho voltou a sua antiga condição, perdendo toda a sua mocidade.
Inconformado ele gritou do quarto:
— Natália! Natália! Venha aqui...
Sua
neta entrou correndo no quarto assustada.
— O que foi vô? Aconteceu alguma coisa?
— Onde está aquele rapaz que você trouxe
ontem para a festa?
— Que rapaz vô? Eu não chamei ninguém!
— Um rapaz alto, de cabelo escuro e
olhos claros. Estava dançando.
— Vô eu não chamei ninguém para a sua
festa!
O
velho escutou a frase retumbando dentro da sua mente “Eu daria qualquer coisa
para ser jovem novamente”. Seu coração foi apertando, e o rosto de sua neta
ficou desfigurado, enquanto se banhava em suor. As mãos estremeceram, e sentiu
seu lado esquerdo do corpo inteiro adormecer. E soltou seu último suspiro.
Muito bom!!!
ResponderExcluirObrigado! Que bom que curtiu!
ExcluirParabéns 😤.Tenho um amigo com 80 e uns que vive da forma que o rapaz ensinou. E é muito bom conversar com pessoas felizes.😊
ResponderExcluir=D obrigado!
ExcluirMuito bacana
ResponderExcluirMuito obrigado!
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