No final da minha rua havia um
pequeno sebo, onde eu costumava passar as tardes garimpando pequenos tesouros da literatura. O dono, Senhor Ribas, já estava acostumado em me ver por lá todos os dias. Sempre conversamos sobre literatura, arte, musica e o inexplicável. O senhor Ribas, contava varias historias sobrenaturais. Nunca acreditei totalmente em suas historias, porém não as deixei passar em branco.
Minha historia favorita é sobre um
pequeno livro que o senhor Ribas leu durante sua juventude. Ribas sempre foi um
apaixonado pela literatura, e desde muito cedo aprendeu outras línguas. Uma
delas foi o alemão, assim como eu , ele adorava garimpar em sebos por livros
usados.
Durante um destes garimpos, achou
um pequeno livro de capa marrom, muito surrado e com o titulo impresso em preto
na capa. Folheou o livro e descobriu uma peculiaridade, o manuscrito não possuía
números em todas as páginas, somente no início de cada capitulo. Não tinha mais
que cem páginas e exatos cinco capítulos. Seu título era “Contos da minha
alma”. E estava todo escrito em alemão.
Empolgado, pois já havia dois
anos que estudava alemão, comprou o pequeno livro e levou para casa. Começou a
ler o livro, as primeiras páginas falavam sobre um velho homem que havia sido arrancado
de sua casa e mandado a um campo de concentração nazista. Era um capítulo muito
triste e angustiante, tão angustiante que ao chegar ao fim ele pensou:
“Pobre homem, espero que isso não lhe tenha acontecido, seja somente um
conto”
Quando iniciou o segundo capítulo,
a primeira frase era – “Meu caro leitor quisera eu que esta experiência tivesse
sido só um conto, mas foi uma torturante realidade...” – o senhor Ribas achou
muito intrigante, a tamanha coincidência da primeira frase do segundo capítulo
responder exatamente o que pensava. Isso lhe deu mais ânimo em prosseguir com a
leitura. O segundo capítulo, contava como o homem foi obrigado a assistir
experiências cruéis que eram realizadas no seu local de cativeiro.
Uma destas experiências era sobre
uma mãe, que havia dado a luz e a colocaram em uma jaula junto de seu filho sem
comer. Após alguns dias a criança faleceu e a mulher acabou comendo sua cria. Aquele
relato embrulhou o estômago, do senhor Ribas, que pensou:
“Deus a que ponto está mulher chegou”
Para seu total espanto, as
primeiras palavras do terceiro capítulo foram - “É fácil julgar as decisões de
uma pessoa desesperada, quando se está sentado em seu sofá no conforto de sua
casa...” - Aquilo, deixou o homem estarrecido. Ele ficou tão intrigado, que o
fez pular para o ultimo capítulo, apenas para ler as primeiras palavras, que
eram – “ Não tente adiantar as coisas,
leia tudo e entenda o que passei...”.
Após ler isso, senhor ribas
retornou para sequencia de leitura. A cada capítulo passado, parecia que o
livro conversava com ele, o livro marcou muito senhor Ribas. Pois trazia
sucintamente, porém com ricos detalhes, o horror que guerra causou ao povo
judeu.
Terminada a leitura, senhor Ribas
vasculhou o livro, atrás de um nome que lhe desse uma pista do autor, mas não
achou, o que viu foi na folha final do livro, uma escrita quase que apagada em
tom vermelho. Que assim dizia:
“Deixo aqui minha alma para que
todos saibam o que foi está guerra”
Depois disso, ele levou o livro
para seu antigo professor de alemão. Pois alguma coisa lhe dizia, que devia
compartilhar aquilo com alguém. Entretanto não teve a oportunidade de discutir
o livro com seu professor, que se mudou sem dar explicação ou deixar endereço
semanas depois. Anos depois senhor Ribas, recebeu uma carta da Alemanha, sem
remetente, com a seguinte frase.
“Pronto à alma dele está livre”
Antes de levar o livro ao seu
professor, Ribas copiou o nome dos capítulos e fez uma pequena tradução deles:
1-
Minha Experiência de Vida
2-
Alma quebrada não se repara
3-
Está dentro da sua mente
4-
Neste lado escuro e frio do mundo
5-
Livro da salvação
Você já conseguiu ver, o que ele
descobriu de intrigante?
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